17 maio 2011

CACHORRO CHORADÔ

É noite no meu sertão, vejo a lua enluarada;

Na mata densa escuito, uns uivados bem distante;

Deve ser assombração, vou fechá minha janela;

Naquela cruiz da estrada morreu seu Joaquim Nhambú;

Dizem que o seu cachorro chorava quinem criança, pela farta do Joaquim;

Credo em cruiz Ave Maria, já viu cachorro chorá;

Só de pensá me arrepia.

Pode até ser verdade, teve gente que jurô, que viu o tar cachorrinho;

Por isso, que aqui escuito uns uivados e uns latidos;

Naquela cruiz nunca passo, ao anoitecê sozinho;

Garro a muié e as crianças e fazemos gritaria, quando lá vamos passá;

Levo até o meu cachorro, que é para disfarçá;

Quarqué latido que escuito curpo ele no lugá;

Assim eu me disfarço para não acreditá.



No meu artá de madera, São Lázo já coloquei;

Ele que ama os cachorros, então que venha buscá;

Este cachorro mardito, que vive a nos assustá;

Até pro Migué Arcanjo já demos de implorá;

Mas é só anoitecê, que o tar começa acuá;

O Joaquim tá morto memo, que pare então de chorá.

De: Otávio Mariano.


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