23 maio 2011

O SUICIDA











Na hora do desespero Francis Wit, dirigiu se até a cocheira pegou uma corda e foi para o mato no intuito de findar sua insignificante vida. Abandonado pela família caiu no alcoolismo, transformou-se num ser sem nome e prenome, igualar-se a um cachorro não poderia, pois os cães sãos os cães, e seres humanos são seres humanos. Subiu numa árvore, uma das mais altas naquela floresta que circundava o parque, quando ia fazer o nó na corda a menos de dois minutos para acontecer o seu fim ,veio a pensar. Será que estou fazendo a coisa certa!...Embora para ele não existisse mais saída. Francis sempre fora um homem de respeito honesto e trabalhador, mas, talvez por um lapso do destino trilhasse este caminho do alcoolismo. Sentado no mais alto tronco, olhava para aquela corda que ia estrangular o seu pescoço dali a poucos segundos e, o galho que escolhera para amarrá-la pensou... Vou descer desta árvore e fazer mais alguma coisa em meu favor, se não der certo volto e faço e que pretendo! Será que me resta ainda alguma luz, pois já fiz de tudo para me salvar, e o vício se apoderou de mim! Exclamou consigo mesmo... Resta-me alguma esperança também se perguntou? A honestidade que Francis tivera com os amigos e a família nunca fora reconhecida, nem valorizada, nesta hora em que ele mais precisava de um ombro amigo, só lhe restava àquela corda e aquele tronco; mas mesmo com o objetivo de se enforcar ele não queria morrer com a alcunha de covarde, dando fim a sua vida por antecipação. Desceu então, daquela árvore e ao colocar o pé na terra, ouviu um pequeno barulho na relva seca, olhou rapidamente, era um cãozinho que se aproximou dele abanando o rabinho, e parecia lhe sorrir carismaticamente, tentando esboçar alguma mensagem, aquele pequeno gesto do animalzinho, fez com que Francis tomasse uma atitude. Sentou se na relva e se pôs a acariciar o pequeno e desconhecido animal que lhe lambia as mãos e erguia suas patinhas como se lhe quisesse abraça-lo. Voltando para casa, banhou-se rapidamente e vestiu uma roupa limpa e saiu meio desnorteado a procura de não sei o que! ... Quando desceu da circular caminhava-se então sem alternativa de um lado a outro para lá e para cá. Como estava próximo de uma igreja resolveu entrar ali e sentou se por alguns minutos bem perto do altar e ficou a contemplar a pintura sacra daquela igreja a imaginar o céu como deveria ser. Após alguns minutos levantou-se do banco e caminhou-se pelo lado direito da igreja e viu um homem enorme pregado numa cruz todo ensanguentado. Como havia também ali um banco tornou a sentar-se novamente e fitou naquela imagem ficando a contemplar e a imaginar o porquê que aquele homem fora pregado numa cruz, tão cruelmente. Lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto incontrolavelmente. Sentiu levemente um cutucão nas suas costas e, olhou para o seu lado era uma velhinha que lhe sorria e disse: “Este homem que está ai nesta cruz na sua frente te ama muito viu”. “Tenha “certeza disso, confirmou” Ele sabe tudo sobre você, até o que você está passando agora” pode continuar chorando viu! Ele vai secar as suas lágrimas e encher o seu coração magoado e machucado de muita luz e paz, substituindo amarguras por amor. Após dizer estas palavras àquela senhorinha saiu lentamente com seu guarda chuvas na mão e foi embora sorrindo, como se tivesse sido portadora daquele recado à Francis. Francis ao se levantar do banco, antes de sair, aproximou-se daquela enorme imagem e tocou numa das feridas do homem crucificado e saiu penalizado, mas de certa forma aliviado, sua alma parecia ter deixado ali um peso enorme, um fardo. Sentou-se na pracinha logo em frente da Capela acendendo um cigarro e fumou, já com seus pensamentos mais direcionado a outra solução, a ideia da corda e do tronco da árvore já não fazia mais parte dos seus planos. Naquele ínterim uma mulher vestida de branco aproximou-se dele sorridente e disse-lhe “oi” tudo bom!... Seu rosto me parece familiar! Você já esteve internado aqui no nosso hospital? Não teve perguntou a Francis? Não minha senhora, respondeu Francis! Qual hospital que a senhora fala? Deste aqui do lado, é um hospital de dependente de álcool e drogas, aqui eu ajudo as pessoas que pretendem e querem deixar esta vida, disse aquela terapeuta. Francis, então pediu que Sílvia sentasse ao lado dele um pouco, e se pôs a contar toda a sua história, até o tronco da árvore e a corda. Sílvia foi atenciosa e ficou compadecida, da história que ouvira, embora já acostumada com tantas outras, convidou Francis a chegar até a portaria do hospital e, falou com a recepcionista que olhasse no controle de vagas se havia alguma disponível e ouviu da recepcionista que havia uma única vaga. Então a reserve para mim, em nome de “Francis Wit”. Retornando a Francis com a notícia, pedindo para que ele ligasse para algum familiar ou responsável para que viesse assinar e responsabilizar se por ele, que ela iria encaminhá-lo para uma avaliação. Francis ficou ali por dois meses e cindo dias, livre do álcool, hoje já faz 18 anos que se reintegrou a sociedade, resgatando sua moral, sua honestidade, sua alta estima e a felicidade que nunca conhecera. Até uns imóveis conseguiu com sua honestidade, ele jura que alguém deu uma mãozinha, embora seu único objetivo fosse parar de beber, pois o resto não importava!... “Francis sempre ganhou pouco em seu emprego”. Quem será que multiplicou hein? Mas com tudo isso decidiu por viver sozinho. Aliás, no seu quintal tem um cachorrinho que lhe sorri sempre, abraça-o e lambe o rosto, e aquelas pessoas que o abandonaram na época em que ele mais precisou continuam distante, mas ele prefere assim, o que Francis não pretende é abrir mão da grande amizade que fez com aquele Homem da cruz, que naquele instante o acolheu e aconchegou em seus braços, usando uma idosa mensageira, e um cãozinho carinhoso que o fez despertar rumo aquele Homem pregado numa cruz; Isto Francis nunca mais vai esquecer e, hoje ele tem esta missão de contar pra todo mundo, que o homem da cruz lhe ama. Hoje são amigos inseparáveis. Ele agradece também pelos imóveis que recebeu como um presente adicional. Por.Otávio Mariano.

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